Tema recorrente nos exames de qualificação aplicados pela UERJ em seus últimos vestibulares, a seleção natural e suas relações com a genética, abarcadas pela Teoria Sintética da Evolução, representa um tema bastante relevante de ser compreendido. Neste tópico, discutiremos os principais conceitos e os tipos de seleção natural.
Para iniciarmos nossa discussão, vamos introduzir este conceito. A seleção natural é uma importante força evolutiva, que atua sobre os indivíduos ou grupos, selecionando positivamente os caracteres mais vantajosos (adaptativos) para a sobrevivência da espécie. Para exemplificar:
“Suponhamos a existência de dois grupos de pássaros: um com bicos finos e alongados e o outro com bicos mais largos e robustos. Consideremos que esses pássaros vivam em uma ilha e que cada grupo possua um hábito alimentar específico. Então, suponhamos que a principal fonte de alimento dos pássaros com bicos finos e alongados se torne escassa, devido a uma alteração no ambiente e que o alimento dos pássaros com bicos mais largos e robustos permaneça abundante na área. O que irá ocorrer?”
De acordo com a teoria da seleção natural, os indivíduos que possuem caracteres mais vantajosos, tenderão a sobreviver. Desse modo, em nosso exemplo, os pássaros que possuem bicos mais largos e robustos, que possuem a característica mais adaptada ao ambiente em que vivem e à principal fonte de alimento disponível, tenderão a sobreviver. E o que ocorrerá com os pássaros de bicos finos e alongados? Por possuírem uma característica menos adaptada ao ambiente em que vivem, esta população tenderá a se reduzir gradualmente e poderá vir a desaparecer completamente. Reparem que Darwin partiu do princípio de que existe diversidade de características entre os indivíduos e espécies, o que conhecemos hoje por VARIABILIDADE GENÉTICA. Ele também considera que esta diversidade de caracteres confere capacidades de adaptação distintas aos indivíduos em função do ambiente em que vivem. O que queremos dizer com isso? Dependendo do ambiente onde o indivíduo é encontrado, uma característica pode ser mais ou menos adaptativa (vantajosa). Por exemplo, um urso polar possui grande quantidade de gordura armazenada em seu tecido adiposo, o que lhe confere uma capacidade elevada de adaptação ao clima frio; mas essa mesma característica seria pouquíssimo vantajosa se ele vivesse em ambientes tropicais (clima quente).
À luz das teorias sobre hereditariedade propostas por Mendel e os avanços nos conhecimentos sobre genética, introduz-se o conceito de FENÓTIPO. Um fenótipo é uma determinada característica observada em um ser vivo. Por exemplo, podemos ter pessoas com olhos castanhos, azuis ou verdes; neste caso, temos três fenótipos distintos (castanhos, azuis ou verdes) para a cor dos olhos. Com relação à cor da pele, podemos ter vários fenótipos distintos: negros, mulatos-escuros, mulatos-médios, mulatos-claros e brancos.
A partir disso, podemos dizer que a Seleção Natural atua sobre os fenótipos apresentados pelos indivíduos ou grupos, selecionando aqueles que conferem maior adaptabilidade a eles. Considerando que, para cada característica existe uma diversidade de fenótipos, a seleção natural seleciona os fenótipos que conferem mais vantagens ao indivíduo na adaptação ao ambiente em que vive.
Sabendo disso, podemos introduzir os conceitos de três tipos de seleção natural:
- a) Seleção Estabilizadora: comum em ambientes estáveis, favorecem o aumento das populações dos indivíduos que apresentam fenótipos intermediários. Ex: seres humanos com alturas médias possuem mais aptidão do que indivíduos mais baixos ou mais altos.
- b) Seleção direcional: ocorre em ambientes onde ocorrem mudanças ambientais, favorecendo apenas um fenótipo extremo. Ex: uma população de presas haja indivíduos com três cores diferentes: branca, cinza-claro e cinza-escuro. Imagine que essa população viva em um ambiente claro, coberto por gelo e neve, por exemplo. É claro que os indivíduos brancos serão beneficiados pelo ambiente, visto que estarão melhor camuflados e, portanto, protegidos dos predadores. Portanto, a forma extrema branca irá aumentar sua freqüência em detrimento da intermediária cinza-claro ou da outra extrema cinza-escuro.
- c) Seleção disruptiva: favorecem os indivíduos com fenótipos extremos. Ex: comunidades de pássaros que consumam somente dois tipos de alimentos, larvas de madeira e sementes grandes e duras. Neste caso, somente os pássaros com caracteres extremos (bicos mais finos ou mais largos) conseguiriam obter alimento. Os indivíduos com bicos médios (fenótipo intermediário) não conseguiriam obter alimento e seriam desfavorecidos.
Vale ressaltar que este assunto de Biologia Evolutiva está completamente agregado à Genética de Populações e que, portanto, a seleção natural afeta os fenótipos, devido a sua ação sobre a freqüência dos genes e respectivos genótipos. Mas isso é assunto pra outra aula! Bom estudo!